quarta-feira, 30 de novembro de 2016
A Era da Sílfide
Raramente percorro a vacuidade dos telejornais nacionais, tão tísicos no jornalismo quanto são avaros no sensacionalismo básico, pueril, prato mal confeccionado e pior apresentado.
Dos interesses das plataformas comerciais e políticas aos enlatados situacionistas que nos servem ao jantar, do "CR7"™ às redes sociais, do gato que trepou a árvore ao sujeito que bebeu duas dúzias de cervejas com a felicidade espelhada no semblante, da nova novela do canal aos comentadores do regime, mérito lhes seja reconhecido pela paródia da argumentação e facilidade na forma ausente de conteúdo, sinto-me ocasionalmente exasperado com aquilo que vejo, e, em simultâneo, admiro a nova construção que integra a censura do conhecimento sem dela necessitar enquanto instituição formal.
Mas, ocasionalmente, interpretamos, ainda que estupefactos, na ausência, na inanidade daquilo que observamos, o espírito de uma era, maculada por fatídicas reminiscências das trevas de um passado comum não tão distante quanto seria de esperar.
E foi neste enlevo, quase pateta por incredulidade, que consegui observar lunáticos da esquerda radical, aqueles que aplaudem de pé um escabroso ditador como Fidel, o carrasco de um povo, "um homem de convicções fortes", gente que tem como obsceno modelo de desenvolvimento a Coreia do Norte, a Venezuela e a antiga união soviética, alguns deles traidores da sua pátria nos tempos da guerra fria, como tristemente nos recorda Mitrokhin, em simultâneo lamentar a morte de um ditador e recusar, quais crianças birrentas sem educação, levantar o respeitável cu da respectiva cadeira que ocupam naquele circo em que se transformou a AR, em sinal de um mínimo de respeito pelo discurso de um chefe de estado de uma Democracia.
Não que aceite a monarquia, mas preferindo-a mil vezes à "revolução sempre", é ininteligível e assustador o estertor de vergonha que impede certos grosseiros fundamentalistas de compreender a dignidade inerente ao cargo que ocupam.
Enfim, talvez tenham razão. A pedagogia é para as escolas, e a vergonha e a dignidade há muito que não moram aqui.
Concomitantemente, na paródia das aparências e dos simulacros, da felicidade tola ou que pretende enganar tolos, temos um animado Senhor comentador televisivo no mais insigne cargo da nação, um pouco retraído desde a publicação daquele ominoso decreto lei que além de não servir para o que quer que seja logo foi repudiado por todos aqueles que o aprovaram, gente de curta memória e pouco pudor, dizia, temos aquele Senhor, qual Nossa Senhora rodeada de pastorinhos, a receber banhos de alegria juvenil, numa bárbara instrumentalização de crianças para realçar a sua imodesta "abertura ao povo", que acabou por concretizar uma das mais nefastas e anedóticas réplicas das cerimónias do tempo da outra "senhora".
Quem sabe, um destes dias teremos a esquerda radical a louvar Salazar pelas suas fortes convicções.
É neste ponto que me interrogo sempre, porque se me apresenta como mutuamente exclusivo: prefiro uma liderança de corruptos e inaptos rapazinhos das "juventudes" ou a liderança sombria de um fanatismo sancionado pelo sindicalismo da função pública?
Ou será simplesmente tempo de começar a preparar lenha para as "fogueiras"?
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entre uma má foda de uma monárquica e uma foda má de uma nacional-socialista, escolho uma boa foda de uma apolítica
ResponderEliminarfogueiras, então.
EliminarNão sei o que prefiro, mas sei que os segundos conseguem ser mais perigosos.
ResponderEliminarViva, magnífica Pirata!
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