Marta Penter |
Debate-se amiúde a questão importantíssima que consiste em saber do que falamos quando falamos de sexo.
A insistência com que nos acaloramos no avançar de hipotéticas respostas, leva-nos a um emaranhado confuso e desnecessariamente complicado de caminhos.
Quando falamos de sexo, falamos sempre de homens, sejam quais forem os intervenientes.
Todas as conversas masculinas acerca do assunto, começando provavelmente pela descrição do desejo que passa num doce balanço a caminho do mar, acabam na esmagadora maioria dos casos, na evocação seca de proezas sexuais dos poderosos machos. O alvo dos murmúrios masculinos é desviado e passamos a ouvir, mais cedo ou mais tarde, as narrativas mais ou menos escabrosas da forma como o Kamasutra foi usado e como se foi hábil, elástico e ginasticado na hora em que o H devia dar lugar ao G.
Os homens, nestes campos de batalha, são naturalmente gabarolas e muitos deles bazófias. Esquecem demasiadas vezes que as suas histórias sexuais bem sucedidas são sempre consideradas exageros mitómanos pelos seus pares e que os seus fracassos - sussurrados em surdina -, vistos como o quotidiano rotineiro dos lençóis. Não há um rapaz que depois de ouvir o amigo fanfarrão a coroar a suas noites de louros iluminados pela tocha olímpica, não pense que a luz que se descreve é apenas a de um fósforo mal aceso.
Os homens falam inevitavelmente do sexo que fizeram ou que se imaginam a ter. As boazonas que passam naquele balanço à procura de mar, são apenas pretextos e causas de elevação de egos masculinos e podem molhar o pezinho nas ondas pacíficas que morrem na praia.
Os homens são um umbigo com pernas e muitas vezes dir-se-ia que a parte que se conservou da circuncisão foi exactamente a parte errada.
Se os homens falam deles quando falam de sexo, as mulheres falam dos homens quando o sexo tem lugar à mesa. Raramente há narrativas femininas de experiências vividas com prazer ou sofridas em desconto de qualquer pecado. As mulheres escolhem sempre a segurança de um imaginário divertido onde os rapazes possuem um papel de destaque e onde, muito mais do que os lençóis da véspera, existem os que se desfazem no futuro. O sexo falado no feminino tem muitíssimo mais humor e não é levado a sério. Debatem-se pilinhas nos balneários da ironia e do sarcasmo, de marotos desejos de as arbitrar, mas nunca as nossas tácticas ou os nossos jogos são mostrados nus e crus às outras jogadoras. No sexo não temos rigorosamente nenhum espírito de equipa.
Quando elas e eles falam de sexo, falam invariavelmente de homens e mesmo quando o sexo é conversado no fim, as mulheres ouvem frequentemente a sacramental pergunta:
- Foi bom para ti? - e é mais uma vez o homem que quer falar dele.
Mentimos, por norma. Para nós é sempre muito melhor.
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