quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Uma nódoa na gravata


Ou

Portugal dos Pequeninos, A Persistência da Tragédia


O Sr. PM gerindo o incêndio de Monchique a partir do Twitter e do Google Earth.

Sim, está ali uma mosca no ecrã. O Sr. PM explica, por telefone(!), que está ali uma incómoda mosca no ecrã. Sim, mesmo ali, caro Sr. Ministro da Administração Interna (na realidade terá sido "ó Cabrita"), estou aqui a ver, não irá escapar!

Ou o ecrã é táctil e sempre que lá coloca o indicador se abate um relâmpago sobre um eucalipto ou um canadair faz uma descarga. Ou talvez o Sr. PM, na sua impressionante e reconhecida capacidade de trabalho, se entusiasme tanto com as crises que fale com as mãos enquanto é fotografado.

Espero que seja vodka na garrafa perto da bola anti stress. Espero ainda que quando ligar o candeeiro se sinta finalmente ofuscado pela consciência do ridículo a que chegou.

Entretanto, enquanto o Sr. PR continua a banhos e afectos, observamos as forças de segurança a remover compulsivamente nossos concidadãos das suas propriedades, sem qualquer apoio no combate às chamas, e o Sr. Ministro da tutela e o Sr. PM a realçarem o sucesso da intervenção, confirmado pela excepção à regra!

Este argumentário, em estilo e atitude, remete-me sempre para infelizes memórias de alas de geriatria, para a sensação de contacto próximo com o flagelo da insanidade.

Paira sobre toda esta gente uma auréola de incompetência negligente, um desinteresse sonso, uma letargia mórbida, da qual se agitam apenas quando sentem pressão das redes sociais. Continuamos uma longa tradição de grau zero na política.

Se o Sr. PM, por (in)oportuno engano, tivesse utilizado o Tinder, muito provavelmente a imagem de satélite no ecrã seria a de esse outro mestre da comunicação social:



Continuamos em roda livre.

Talvez seja apenas mais um dia no esquife sem leme, no ataúde sem tampa que é agora este País, dignidade esvaziada por décadas de rapazinhos oriundos das juventudes partidárias, esses aviários de ministros, nas palavras de Pulido Valente.

Sim, venham os veículos eléctricos, vamos poupar o ambiente. Mas nem uma palavra sobre o lítio, sobre o carvão nas termo eléctricas (sim, carvão!), nem as emissões de gases com efeito de estufa dos nossos alucinantes e dantescos incêndios florestais.

Os incêndios não começam assim sem mais, afirmava há uns dias a Sra. Patrícia a respeito do risco associado às temperaturas elevadas, pouco antes do início desta tragédia. 
Logo emendou. As ignições são essencialmente negligentes: queimadas, churrascos, gente que vai fumar para o pinhal, cabalas de esquilos, enfim. 
Não há qualquer intenção, não há qualquer conspiração, há apenas a "época de incêndios", que precede a "época de caça".

É difícil manter a sanidade nesta sociedade mediática, liderada pela alienação mental e pela mentira.

E continua a tragédia humana...



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