quinta-feira, 14 de maio de 2015

Certo tipo de mulheres e um tanque de lavar a roupa.

Por Filipa Brás







As mulheres gostam de ouvir que são boas condutoras da mesma forma que não admitem ouvir dizer que estão gordas. E a verdade é que há sempre alguém que lhes segura as fantasias lá nos píncaros das improbabilidades, ao dizer-lhes que sim, conduzem mesmo bem e estão em forma. 
Mas não.
Pegam no volante e transformam-se, é automático. Mal ouvem o *clic* do cinto de segurança a entrar no encaixe, algo agarra no seu bom senso, manda-o ao chão, pisa-o, aventa-lhe uns socos na tromba mesmo antes de o mandar à merda. Depois, bom, depois gostam de mostrar ao mundo porque é que são tão afamadas nestas lides; são agressivas, tratam os palavrões e a impaciência por tu, vão juntos à bica, é uma nabice tal que chegam a ser confundidas com quem anda a ter aulas de condução, peço desde já desculpa aos visados pela generalização, mas a vida consegue ser muito puta.
O pacote completo é o jackpot nesta lotaria do demo: espetam o dedo do meio a quem as contrariar, arregaçam as mangas, cospem para o chão e vão à luta. Gosto destes dias, é uma diversão pegada, não tenho mãos a medir com tanta gargalhada. Animam os nossos dias, era uma pena entrarem em vias de extinção. 
Não há no mundo substituto da maviosa visão de uma gaja a sair do seu carro porque não consegue chegar ao ticket da portagem. 
Afinal há, lembrei-me agora: as que acham que um só lugar de estacionamento não chega e decidem que ocupar dois é mesmo o melhor, ou um e meio, vá. As que decidem travar sem razão aparente, só porque o pedal está mesmo ali ao pé e é para ser usado, as que não vão a ultrapassar, vão só distraídas na faixa da esquerda e até mesmo na do meio, porque não?, uma estrada tão larga e comprida, não há-de estar, com certeza, a empatar ninguém.
Às vezes estou aborrecida cá com os meus pensamentos, com o mundo, com a fila que não me deixa andar e decido apreciar o meio ambiente que me rodeia e me envolve com os tentáculos da anormalidade. Percebo que a mulher do meu tempo é multitask também nestas coisas da condução, faz de tudo enquanto conduz, excepto conduzir bem: penteia-se, pinta os lábios, os olhos, põe base, perfuma-se, põe os brincos, faz a sua manicura, e tudo isto enquanto dança e trauteia a música que está a ouvir. Em dias maus limita-se a mandar sms enquanto ziguezagueia pelas estradas, é a sua maneira muito particular de mostrar ao mundo quem é que manda e que quem está efectivamente mal não é ela e a dizer-lhe: Por favor não vir cá com paneleirices de buzinas ou sinais de luzes que enervo-me que é uma maravilha. Eu sou mulher, caramba!, tenho dias maus na condução e este é só mais um.

A juntar aos restantes 364.
São bons dias, os dias em que me cruzo com estes seres.

10 comentários:

  1. Espetam o dedo do meio a quem as contrariar, onde?

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  2. Olha quem fala, Quem é que anda a matar os ciclistas que vê à frente?

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  3. Tens alguma razão, mas o binómio boina + caixa aberta de madeira continua a ser o nº 1, no que à perigosidade diz respeito.

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  4. Olha... Esta que te escreve é uma condutora exímia... Capaz de depilar as axilas no trajecto casa-trabalho e de fazer um patinho em origami só com uma mão no trajecto inverso!

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  5. "não consegue chegar ao ticket da portagem"
    :DDDDD

    ... pelo menos não falaste de cicloturistas, sossegados no meio da estrada!

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  6. Só trauteio.
    Tudo o mais, não faço.
    Mas não me classifico de condutora exímia.
    E por que não consigo chegar ao ticket da portagem, decidi há anos, ir pela VV.

    P.S.:
    Gosto deste seu espaço.

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