sexta-feira, 24 de julho de 2015

Estamos todos inundados de preconceitos

Por Uva Passa

Sobre o tema que a beautiful-blue desfolhou aqui, muito bem desfolhado [diga-se em abono da verdade], lembrei-me logo de uma cena muito estúpida, mas mesmo muito estúpida que presenciei há dias na Toys'R'us.
Um puto que ainda não devia ter 7 anos, usava, como quem usa um boné, um alargador preto em cada orelha.
Escusado será dizer que fiquei tão mal disposta que me saltaram as molas todas e fui mesmo obrigada a meter os olhos para dentro, ao mesmo tempo que tentava esconder um grande ponto de interrogação em neon pisca-pisca que nasceu no alto da minha cabeça.
Como é possível um Universo tão imensamente inteligente conspirar para juntar duas alminhas (os paizinhos) e fazê-las concordar ao mesmo tempo e na mesma criança - um filho, um filhinho tão pequenito -, em espetar com dois alargadores nas orelhas do pequeno?
Para onde se escoo a consciência de que ao fazerem-no numa criança tão pequena violaram (em toda a linha) o seu direito à liberdade sobre o seu corpo?
Fiquei a olhar para aquela mãe, que não usava brincos ou merdas definitivas que se vissem, e quase que lá fui tocar-lhe no braço para lhe perguntar se não tinha vergonha de sujeitar assim uma criança, tão pequena, a um alargador horrendo em cada orelha, e se ela teria gostado que a mãe lhe fizesse o mesmo em pequena, mas quem sabe numa bochecha ou mesmo no clitóris.
Mas, alvejada por algo invisível e no entanto de grande potência, recuei dois passos atrás, vi o sangue nas mãos e sedei o meu impulso de lhe fazer as perguntas.
O que me alvejou foi, descobri depois, uma coisa muito estúpida: o meu preconceito social.

O meu preconceito social e a minha repulsa não surgiram perante a imagem de uma criança de brincos pretos alargadores que lhe estilhaçaram as orelhas.
Não.
O meu preconceito atuou ferozmente aqui: não tenho o direito de chamar a atenção a uma mãe que decide colocar alargadores no seu filho de 6 anos, pelo simples facto de que é socialmente reprovável, e altamente perigoso, uma pessoa estranha apontar o dedo a uma mãe em plena via pública (ou privada) sobre a educação e o uso que ela entendeu fazer do seu filho.

O meu preconceito foi igualzinho ao preconceito que perpetuou (e perpetua], durante anos sem fim, aquilo que hoje é considerado um dos maiores flagelos familiares: entre marido e mulher não se mete a colher.

Nós, os outros, não podemos meter nada, mas elas, as mães, eles, os maridos, vão metendo tudo e fazendo tudo como se, e de alguma forma, fossem livres de usar os seus objetos-pessoas como e quando lhes dá na real gana.

E é este o preconceito que mata, o preconceito-covardia.

16 comentários:

  1. :)
    Beautiful Blue é tão bonito, e tão azul. Obrigada.
    ~
    Alargadores numa criança com menos de 16 anos? Daqui a um ano tatuam-lhe na cara os nomes deles, pais, e fazem-lhe uma tatuagem branca pelas costas abaixo com o retrato dos dois (de preferência a darem um beijo na boca). Aos 10, pela 4.ª classe, o piercing no nariz, para poderem deixá-lo à porta do café, preso na argola da porta.

    A fertilidade está muito mal distribuída.

    (comentário copiado do Uva Passa, que hoje estou varrida) :)

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  2. bem nem o que vais dizer deste video no facebook da CONTROL

    https://video.xx.fbcdn.net/hvideo-xpf1/v/t42.1790-2/11759775_516906255129060_968689242_n.mp4?efg=eyJybHIiOjYyNCwicmxhIjoxMTkzfQ%3D%3D&rl=624&vabr=347&oh=004a1f2a7feb6664391f485ed7b3ec29&oe=55B23E98

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    1. Este vídeo é só parvo.

      Quanto à questão que o post aborda, estou com a Linda: a fertilidade está muito mal distribuída.

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  3. Pipocante Irrelevante Delirante24 de julho de 2015 às 16:57

    Antigamente (ainda se faz?), furavam-se as orelhas às meninas mal saíam da barriga da mãe.
    Sinceramente, tenho sentimentos contraditórios... é reprovável o alargador, tudo bem, mas se eu passear na Suécia e dar uma palmadita "tira-o-pó" no petiz, o mais certo é uma Uva Passa Sueca fazer queixa ao bófia mais próximo e eu ir dentro. Onde se traça a linha?

    PS: os blogs da moda são tão rápidos a dissecar casos fracturantes, o do juíz que proibiu os pais de publicarem fotos do descendente tem passado assim meio despercebido, ou é impressão minha?

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    1. Acho que a linha traça-se no mutilar definitivamente uma criança. A nenhum pai deveria ser permitido isso. Seja furar as orelhas a um bebé e muito menos um alargador de orelhas ou tatuagem.

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    2. Venho só aqui assinalar um primeiro comentário do PID a um post da Uva Passa (que é um bocadinho sueca) e que muito gosto tem se ser comentada por tão ilustre anónimo.
      Respondendo: eu acho que agora o que se faz é furar as orelhas às crianças ainda DENTRO da barriga das mães. Já nascem com aquilo como se fosse um sinal de nascença. Dizem que é para dar sorte.

      O caso do juiz foi abafado PID.
      Ficaram todas a tremer que nem varas verdes. Há uma tal de Carlota (não vale a pena esconder que toda a gente sabe) que tem os filhos a render há anos e ainda ninguém foi capaz de lá ir (nem suecas nem portuguesas) dizer que aquilo é uma vergonha.
      É a chamada unidade de produção familiar [o filho/s], muito usada antes da revolução industrial quando as pessoas eram apenas miseráveis.
      Entretanto chegou o séc. XXI e algumas ainda usam os mesmos métodos.

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    3. Pipocante Irrelevante Delirante24 de julho de 2015 às 18:03

      Mas sabe Pipinha, nalguns países a linha traça-se na violência sobre o infante... que para alguns é apenas de cinto para cima, para outro é a "mera" palmadita. Essa linha não é objectiva.

      Cara Uva
      sabe perfeitamente que era hábito furar as orelhas às meninas bem cedo (e não me refiro a "mal o ourives abria as portas"). Sempre achei isso um abuso. Há quem ache que o que eu acho é uma estupidez. E decerto haverá quem concorde. Com ambos. Os dois.
      Do outro assunto, houve tempos (e ainda os há) em que ter filhos era rentável, pois eles eram uma fonte de rendimento ao invés de uma fonte de despesa. Como andamos em ondas de revivalismo, há que trazer o melhor de outros tempos.

      PS: não sou ilustre, bem pelo contrário
      PS2: tem um pouco de sueca? É genético, cultural, ou gosta é mesmo daqueles móveis do Ikea?

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    4. Sou de descendência alentejana, mas o meu bisavô era chamado de Pinto Branco por ser loiro como a Cicciolina. ;)))
      Adoro o IKEA. Sou culturalmente muito loira!

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    5. Vocês são um bocado chatos. Uma pessoa lê "Pipinha" e vem ver o que me querem, chego aqui e é isto.

      Odeio o Ikea e o seu salmãozinho em cama de brócolos ou lá que merda é aquela.

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    6. Vocês são um bocado chatos. Uma pessoa lê "Pipinha" e vem ver o que me querem, chego aqui e é isto.

      Odeio o Ikea e o seu salmãozinho em cama de brócolos ou lá que merda é aquela.

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    7. Vocês são um bocado chatos. Uma pessoa lê "Pipinha" e vem ver o que me querem, chego aqui e é isto.

      Odeio o Ikea e o seu salmãozinho em cama de brócolos ou lá que merda é aquela.

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    8. Prudência! Quando a Pipinha se repete uma vez é de ter cuidado. Quando se repete duas vezes é só gente a fugir.

      Eu, sujeito consideravelmente medicado, advogo, entre outras coisas, o acompanhamento psicológico dos futuros e consumados pais, com respectiva atribuição de certificados de aptidão renováveis anualmente.
      Quando vagueio entre as livrarias dos centros comerciais vejo gente que parece ser de uma outra espécie a torturar pequenos infantes naqueles malditos sítios e a tirar selfies para sodomizar o facebook com inanidades. Talvez se sintam mais reais assim. Não sei. Mas também me parece que estou a falar de outro assunto...
      É necessário licença para conduzir e caçar e maturidade para beber álcool. Porque não para ser Pai?

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  4. Não concordo em colocar alargadores em crianças de 7 anos, de todo. No entanto: ninguém fala da afirmação "merdas defintivas que se vissem", ao referir-se da mãe? As mentes fechadas tambem têm o seu quê de definitivo e merdoso... Ou a adulta também não podia ter as tais coisas "merdosas"?

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