terça-feira, 22 de setembro de 2015

amando

Por M.J.

não gosto de criancinhas. 
não gosto do choro, das birras, da necessidade de atenção constante, do facto de encontrar uma colada às mamas de alguém em situações inusitadas (nada contra, excepto se for, por exemplo, na minha pastelaria habitual e eu for obrigada a comer torradas com alguém à minha frente a esguichar leite), das bochechas bolachudas que todo o mundo entende ser uma beleza. 
não suporto a ideia do parto (pelo amor de deus, não venham com histórias que é bonito. necessário pode ser, mas bonito? estamos a falar de alguém toda escachada, ao género de frango de churrasco, com aquilo tudo aberto e rasgado, cocós pelo meio, gritos de horror puro e uma cabeça a sair por um buraco onde, enfim, normalmente, não entram coisas tão largas).
desprezo mulheres que vivem por e para os filhos, que lançam lindas pérolas (estudos mais do que comprovados) de que eu só vou entender quando for mãe, ou que o mundo só ganhou sentido depois que produziram aquele pedacinho de carne (quão triste deve ser a vida de alguém que apenas encontra o seu caminho após produzir outra pessoa?) e ainda aquelas que, tendo vergonha de dizerem que são domésticas (não há mal nenhum nisso), que decidiram parar de trabalhar uns tempos (eu já o fiz) mascaram o facto de não trabalharem profissionalmente apelidando-se de "mães a tempo inteiro". (o caralho. vão-me dizer que nem dormir dormem, querem ver?)

ainda assim, reparem, se um dia for mãe (o cosmos é engraçado e pode querer castigar-me) não creio que consiga impor à criancinha as torturas gigantes que as mães dos blogs lhes fazem.
essas mães.
que há mães que só escrevem sobre criancinhas, sabem? que só escrevem sobre o que pariram num eterno gesto de amor. mães que partilham fotos das criancinhas na cagadeira (sim, sim, todos vimos isso e se for preciso eu disponibilizo meia dúzia de links), na praia, no lago, ao pequeno-almoço. que lhe vestem babetes e laçarotes e mostram a quem quiser ver, seja a outras mães, seja a não mães, seja a avós, seja a avôs, seja a senhores procurados pela justiça por estraçalhar meninos nos intervalos.
as mamãs dos blogs, que se sacrificam meses em casa, que deixam de lado as suas carreiras e que aceitam apenas por gratidão um dinheirito para fazer publicidade à margarina e a hotéis, publicam fotos das criancinhas, que pariram e do qual davam a vida, unicamente por amor
não é tortura, não é apropriação, não é tentar ganhar a vida à custa da imagem da carnezinha que produziram. 
não, q´horror. 
essas mães acham as criancinhas fofis, todas elas bonitas, os cocós todos cheirosos e as birras como expressões da personalidade individual (que eu não teria nada contra se não me moessem os ouvidos nas filas do supermercado ou em restaurantes).
melhor que isso, entendem que todo o mundo é assim. e quem é não devia.
essas mães sabem o que é certo ou errado, ensinam como ser mãe a sério, dão conselhos úteis e expõem, porque o amor é uma partilha, as fotos fofinhas das criancinhas ao mundo unicamente numa missão doutrinária. 
não é por dinheiro, não é por presentes, não é por mais nada.
nada interessa na exposição do amor:
nem mesmo o pedófilo que bate uma a olhar, com arzinho inocente, os meninos lindinhos, semi-nus, na praia, com as cuequinhas que o patrocinador ofereceu para aparecer na foto.

ah, a beleza do amor mais puro.

11 comentários:

  1. Tenho um nojo muito imenso de mães que ganham a vida expondo os filhos, como dizes, e bem, mas gosto muito de crianças, sobretudo das crianças a partir dos 6/7 anos.
    O que mais gosto é de adolescentes mas com esses as mães não fazem farinha, e por isso gosto deles ainda mais.
    O parto e essa treta toda, por mim dispenso. Dispenso a amamentação, e dispenso ficar em casa para tratar de filhos o dia inteiro. Acho que me suicidava antes deles fazerem 2 anos.

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    1. oh pá mas lá está, até tendo em conta a discussão que se gerou no meu blog por causa deste assunto (fiz remissão para aqui): o facto de eu não achar piada a crianças não significa que não consiga ver quando estão em perigo ou quando são aproveitadas pelas mães. tal como tu o que sinto é mesmo nojo por pessoas que passam uma imagem de mulheres perfeitas, completas, com pequenos almoços em hotéis, os putos carregados de babetes do tamanho de dois depósitos de água industriais, um ar de "ai como eu sou uma mãe tão boa e tão moderna" e depois fazem a mesma coisa que os pais dos miúdos que vemos que por aí a pedir: exploram-nos até ao tutano. e ninguém faz nada. e as comissões acham bem. toda a gente sabe dos riscos da net. toda a gente sabe da loucura que é o mundo e mesmo assim, "ah os pedófilos é que estão mal, se eles batem uma a olhar para o meu filho, paciência. o que interessa é o dinheiro da publicidade". mas... mas... mas anda tudo louco?

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    2. A minha resposta à tua pergunta é sim.

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  2. Eu gosto de criancinhas.
    Mas não gosto de velhinhos, deve valer mais ou menos o mesmo.

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    1. eu é mais ao contrário. também digo que deve valer mais ou menos o mesmo.

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  3. Eu gosto de criancinhas, tanto que à falta de um resolvi ter dois! Adoro os meus filhos, mas como digo muitas vezes, antes de eles existirem já eu cá andava. Ou seja, não sou fanática por eles nem tão pouco me ponho de parte enquanto mulher por eles. Há que saber estabilizar a balança.
    Quanto ao aproveitamento parece-me que à falta de melhor, se dá para ganhar uns trocos pois que seja que mal não há-de fazer. O único senão é a hipocrisia existente nesses casos.
    PS: Eu não vi a foto do menino/menina no penico :(

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  4. Este texto podia ter sido escrito por mim há cerca de 4 ou 5 anos :-D Tive grande disputas com uma colega de faculdade por ter este tipo de discurso, logo com ela, que era o protótipo da mulher que não for mãe um dua vai morrer frustrada. Era exactamente assim que costumava pensar e em muitas das ocasiões descritas no referido texto ainda é assim que vejo o "cenário". Entretanto percebi um a coisa: estou preparada para ter o meu filho/a, mas duvido que algum dia me agrade "levar"com o choro, os cocós ou as birras dos filhos dos outros. Principalmente as birras, porque tenho aversão a gritos e berros, independentemente da idade de quem está a gritar. Sou intolerante, ponto final e vou ser sempre. Mas, bom... Vivemos em sociedade, certo? Há coisas que não temos que gostar, mas temos que "lidar" com elas porque não há alternativa. As criançinhas ainda não nascem com um controlo remoto, infelizmente. Nem precisava de ser nada muito elaborado (lolol) bastava o botão de desligar e botão de "mute" (lolol). Portanto, é como diz o outro "aguenta e não chora". Em alternativa podemos sempre fugir um bocado para a floresta, a Serra de Sintra costuma ser boa para isso :) Beijo grande***

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  5. Escreveste tal e qual o que eu penso e sempre pensei. E não mudei com a idade, pois cá estou eu com 53 anos, sem filhos e sem nenhum arrependimento.

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