sábado, 30 de maio de 2015

50

Por Isa



O número só por si, assusta. É pesado, embora sendo só a continuação do 49, seguindo o curso estabelecido pela numerologia. É giro quando estamos a contar dinheiro, sapatos, malas, roupa, namorados ou likes na nossa foto de perfil no face, mas se estivermos a contar idade, são outros tostões. Corre tudo relativamente bem até à véspera, depois há ali um crime qualquer à passagem da meia-noite, que como que nos tele-transporta  pra um corredor da morte, no qual estamos todos, mas ali a noção de perigo impõe-se. Um numero  não escolhe géneros, mas é sempre muito pior para as mulheres.(Claro). Socialmente falando, acho que nunca se viveram tempos em que o preconceito fosse tão combatido e paralelamente tão acérrimo. Meninas fazem o que sempre fizeram, querem ser mulheres rapidamente, a diferença é que antes ficavam-se pelo desespero de quererem muito, ninguém lhes ligava nenhuma, agora há máquinas de marketing fortíssimas a convencerem-nas de que são mesmo. Tratamentos de pele, desde a simples hidratação até aos mais agressivos, são publicitados por pitas que parecem saídas de uma vídeo conferência dos úteros de suas mães, para o mundo, e o mundo, atónito, confuso, mas nem por isso menos receptivo, capta a mensagem subjacente. A ruga é uma coisa mesmo muito desagradável à vista de cada um, a ciência promove a longevidade, a cosmética cobra-nos big time os anitos a mais. Morra-se, mas morra-se com pele de rabinho de bebé, e pelos 12 deuses do sagrado Olimpo não lhes façamos agora a desfeita de morrermos inesteticamente. Sem rugas. Magras. Frescas. Tonificadas, e com 102 anos de idade, que assim é que é um cadáver como deve ser.

Os homens não. Um homem nunca está acabado. O cabelo branco torna-o mais sexy, as rugas fazem-no mais sedutor, mais maduro, mais sábio, mesmo que a inteligência emocional tenha regredido pra -0, o encanto aumenta. Se ficou careca ele compra um descapotável, se tem barriga é da idade, perfeitamente compreensível e aceitável. O homem pode procriar até ao fim da vida, mesmo que não tenha uma erecção decente desde a adolescência, a mulher tem a menopausa, que é como que o sistema reprodutor a dizer "já foste". E a pessoa até ia bem, eu cá ia, não fossem todos os desconfortos daí decorrentes. Mas uma vez que estas discrepâncias de consideração entre sexos não é da responsabilidade de nenhum mortal,  passemos à frente dos suores, das privações de sono, das referências às (surpreendentes) oscilações de humor, da quantidade de tempo que esta porra toda dura, ponderemos que  apesar de todos os contras  relatados de forma deprimente e  hiper-condescendente que se possam ler em sítios da especialidade, há contrapartidas. Mulher nenhuma em plena menopausa sofrerá, jamais, de um ataque de soluços, por vias dos tantos sustos que apanha em frente ao espelho. Por exemplo.
  
Dizia eu então que, esqueçamos todos estes senãos, aceitemos o miserável quid pro quo com que a natureza nos presenteia em relação a eles. Foquemo-nos antes, com empenho e afinco, no seus exames anuais à próstata, ou no facto de podermos continuar a simular um orgasmo, prossiga-se com o andor e passemos à parte em que o postergar é mesmo por nossa conta. 

Amiúde dou por mim  a pensar que esta é a melhor fase da minha vida. Filhos criados, saudável e um Mundo a conhecer, não obstante a forma como a minha idade me define aos olhos de outrém. "Velha", "cota", "entradota", são as expressões mais comuns. E tudo bem, uma pessoa pode até esboçar um sorriso como quem agradece a originalidade,  seguir a sua vida, como quem constata que sim, pois que sim, mas sendo embora essa a verdade ...  pensarão que não sei? (e a Torre de Belém,será que ela sabe que é uma torre e que  fica em Belém, ou as pessoas vão lá todos os dias dizer-lho?), pergunto-me eu em dias bons, que são aqueles em que consigo 24h inteirinhas sem aviar um ou mais pró caralho, exactamente porque a perspectiva de envelhecimento me torna mais voraz do hoje, aqui e agora, ao mesmo tempo que penso que certo tipo de basicidades  deviam ser assinaladas mundialmente, com algo como "O dia em que o Teco abalou pró Hawai", que era o dia em que quem não tem nada de substancial para dizer, se cala e chora, agarrado ao Tico sobrevivente.

Mas hey, uma índia põe de parte o desgabo da coisa e segue a sua vida. Desgosta-se é quando subentende a satisfação subliminar, num deliberado golpe desferido à  sua auto-estima. Vem sempre de mulheres e  isto nem surpreende. Atente-se que "gajas" é a maior praga de Moisés deitada ao Mundo, omitida na Bíblia, simplesmente porque é um assunto nosso. Toda a gaja sabe que gaja nenhuma é da inteira confiança de gaja nenhuma, em termos gerais. Invejosas, implacáveis, predadoras, ávidas de marcação territorial, é tudo uma questão de posse. Nós competimos por pestanas postiças. Nós não lutamos por nada que não propicie a supremacia  de uma em relação a outra. Que homem nenhum pense, enfim, que um suspiro nosso que seja, é emitido em sua função, que não é. Simplesmente há-nos a necessidade de afastarmos qualquer elemento que mije sentado (e seja genuíno), independente das características que  nos favoreçam ou realcem.

A faixa dos 50, será talvez a mais carregada de juízos de valor, provavelmente porque já não estando, também ainda não fomos. Representamos o perigo da experiência, a frustração do chamado "ninho vazio", a redescoberta do eu, o saber se ainda despertamos algo em alguém, logo, um perigo ainda não totalmente aniquilado. Vai daí que não se perde uma. Pessoalmente, ainda a merda da procissão vai a meio e já constatei uns quantos desses juízos. Numa altura em que uma pessoa quer é paz e sossego, ele é, por um lado, o constante lembrar do que o futuro me guarda - como se não fosse a coisa mais natural do mundo - e como se isso fosse mau. É um aproveita os últimos cartuchos - últimos, não te esqueças que são  mesmo os últimos - hã?, dito em nostálgico, e por outro é a mesma cena, mas em contente. Que raio. E à merda, não? Como se já não me bastasse a arrelia da puta da anaconda, que subitamente se instalou na minha cintura, ou a preocupação com o coma em que se encontra a minha libido. Pô.
Foi durante uma destas fúrias que, inspirada no Almada Negreiros, resolvi fazer o meu manifesto  aos corta-tusas desta vida, os Dantas do preconceito. A eles, o meu basta pum basta!!!, em formato respostas a observações menos simpáticas, cordiais ou solidárias, e que aqui deixo à laia de legado, para as que, como eu e quando nestas circunstâncias, conseguem ver mesmo muito bem delineado, um alvo na testa de quem as admoesta com cenas da treta de palavreado pré-programado:


Mas vais ... assim...?
- Vou de mim. Ir de ti já 'tá muito visto. (Pim!)
   (Dizer isto com o ar mais natural do mundo - enquanto se põe um brinco, por exemplo, e ao mesmo tempo      focar-se a atenção numa minudência qualquer. Digamos... o salpico no espelho, a atrapalhar a beleza da        Eva. Pronto).

Vais sair com o X? ... mas que idade é que ele tem??
- Claramente, idade de  muito bom gosto e juízinho..Pim!)
  (Sobrancelhas arqueadas, olhar dilatado corroborando a obviedade da resposta. A pergunta é tão imbecil,       que só encontra paralelo na eventual dúvida do eventual entretido(a) com se há água em Marte, sobre a         a sexualidade do Ricky Martin, desde que há Ricky Martin, ou com a estranheza de não se terem encontrado,   mesmo, armas de destruição maciça no Iraque). 

-  Vai ser giro, vão pessoas assim (dedo apontado ao nosso lindo ser) de uma certa idade...
- Ahhh .. e também vão pessoas assim (dedo apontado ao coirão), de uma certa [..  *]? (Pim!)
   (* adjectivação a escolher, consoante o grau de pressa, irritabilidade, ou intimidade com a interlocutora.        Be bold, be wild).

Estás muito bem ... prá tua idade.
- ......  (Pim!)
(Não agradecer. Não dizer nada. Silêncio. Olhar focado na pessoa. Até ela se sentir tão mal, quanto é mal o que acabou de dizer. Sorrir, simplesmente e só. Como quando nos dizem "ok.. estás mal, mas olha que há piores!" Xiu. Nada. Naduska. Caladinha).

- Este é o creme para a sua idade.
- E para a minha pele... há? (Pim!)
 (Loira  maravilhosa, pergunta loira maravilhosa. "Os States são mesmo uma potência cujo intuíto se rege        pelo bem-estar do resto do   Mundo, pois que é..?" Este tipo de pergunta, com cara deste tipo de pessoa).



Estas, são só uma pequena amostra do que tenho nos cerca de 15 cadernos A4, que  uso como diário dos meus lamentos, depois de perceber que afinal aquilo do alvo, não sou eu que sou espírita, era mesmo dos nervos. Há mais, e também tenho um monte de considerações sobre acrónimos como MILF. Em querendo, é só dizer.



Cansaço ó santos deuses. Fartinha, fartinha.


(Refleti em muito, bem sei, mas é que a revolta é evaréstica)






26 comentários:

  1. ...Morram as gajas... Morram... PIM !

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  2. As gajas nasceram para provar que, nem todos os que nascem sabem escrever !

    As gajas são autómatos que deitam para fora o que a gente sabe que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

    As gajas são um soneto delas próprias!

    As gajas em génio nunca chegam a pólvora seca, e em talento são PIM-PAM-PUM!

    As gajas nuas são horrorosas!

    As gajas cheiram mal da boca !

    Morram as gajas, morram PIM!

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  3. Respostas
    1. Se te referes ao texto, sou eu a nunca mais me calar. Se te referes aos comentários do José Leite, penso que é ele a fazer de Almada Negreiros, sendo que
      no caso, o Dantas sou eu.

      (Acho)

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    2. Como aqui, mas em muito pior.:P

      http://www.prof2000.pt/users/tomas/manifesto_anti.htm

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  4. Nada me move contra as gajas nascidas nos anos 60, desde o IMC não seja obsceno, que respirem sozinhas e cujas articulações cumpram os requisitos mínimos. Para o resto há sempre solução. Yet, fiquei a pensar nisto: como é que se corta a tusa a alguém que tem a líbido em coma?
    E porque raio continuam (ou dizem que) a fingir orgasmos? Ainda acham que a gente se importa?

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    1. Pá, nas práí 20 vezes que tive sexo (posso estar a arredondar pra mais, que sou uma optimista), não fingi nenhum. Maneiras que não sei porquê que o tema
      do orgasmo fingido, é tema. Agora que vocês se importam, importam. Pelo menos é o que consta.
      Não imediatamente, é certo. Estão-se um bocado nas tintas pra se a coisa nos correu bem, mas em desconfiando que aquilo pode ser fingido, dá-vos daqueles ataques de
      virilidade, do género " Uai..! Como não..?! ... como "fingido"..?! ... Como assim??... mas..mas...".

      Sobre a tusa: Não sei se é só meu caso, mas eu cá tenho disso pelas mais variadas razões, nomeadamente compras, viagens, foder a cabeça ao próximo, andar na faixa do meio das auto estradas, ou na da esquerda, à velocidade máxima permitida por Lei. Por exemplo.

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    2. Vamos então a um paralelo gastronómico, coisa tão na moda nos dias que correm: Imagina que estou três horas na cozinha, a preparar um daqueles pratos cujo nome é quase impronunciável e cheio de ingredientes exóticos, com o objectivo de surpreender a convidada. E imagina que a convidada és tu.
      Apresento-te, orgulhosamente, o prato e sentamo-nos à mesa. Comemos, bebemos e daí a meia hora já estamos a trocar fluídos e epitélios como se não houvesse amanhã. Feito.
      Agora voltemos ao jantar e imagina que comeste mas não gostaste. Imagina que eu perguntei se estavas a gostar (nem todos os palatos são iguais) e tu disseste que sim. Por educação ou com receio de ferir os sentimentos do chef, não referiste que a redução de frutos vermelhos estava demasiado ácida ou que o peixe estava insosso. O que é que vai acontecer da próxima vez que te convidar para jantar? Pois é. Desculpas-te e vais comer a outro sítio, ou então comes a mesma merda, quando te podias alambazar com um prato fantástico, caso tivesses feito a coisa bem feita da primeira vez. Há ainda uma terceira hipótese, que é mandar vir pizza e passar logo ao intercâmbio celular.

      "...à velocidade máxima permitida por Lei." (facepalm)
      Deve ser uma sensação radical, essa de cumprir a Lei infringindo a Lei.

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    3. Achei o paralelo lindo, deixa-me que te diga.

      (Tivesses explorado mais uma beca a parte do manjar em si, e eu já nem me lembraria do que se tratava realmente).

      ( E facepalma práí, a ver se me importo)



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    4. Estava com pressa. Tinha de ir ao supermercado reabastecer-me de mirtilos, morangos, amoras e framboesas.

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    1. Keep dreaming, mábeibi...



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    2. Eu só não adivinho aquilo dos números lá do concurso da Santa Casa...

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    3. Porque, como se está mesmo a ver e movido pela certeza que falha - nem sequer joga.
      Né?

      (Arrancou-me um "lol". Outro).

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    4. Bem, verificando-se que as coisas são como são, resta-me dizer-lhe que por cá continuarei na secreta esperança de que lhe saia outro post sublime.

      (agora, sem pressão, fica mais fácil...)

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    5. Olhe que se eu lhe disser o que quer tanto ler ( ou seja, que a fonte de inspiração teve muito a ver), isso é uma faca de dois gumes, hã..?

      ( Éniuei, obrigada pelo "sublime". E 'tá bem, abelha..)


      ("Secreta esperança". Coisa mai linda. Poética. Quase um Rembrandt... )

      (Mas lá está ... "quase")


      *suspiro*





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    6. Acho que nunca tinha lido nada teu, mas adorei este texto. Ah! e já ultrapassei os 50, há quase 3 anos. Queres saber um segredo? Eu não voltava atrás por nada deste mundo!

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    7. Obrigada.:)

      Partilho do teu segredo.

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    8. Obrigada.:)

      Partilho do teu segredo.

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  6. Uma tese que sim senhora, assunto para doutoramento, romance, e livro de auto-ajuda. Qualquer Margarida - Pinto Correia ou Rebelo Pinto - entregaria coiro e cabelo por isto. Como três já é muito, escolhe uma e fá-la bem (o gracejo é parcial). O quarto parágrafo ― em preâmbulo a blogues e obras de vários autores ―, era um favor que nos fazias.

    O meu contributo sobre este assunto é pequeno, mas, sabendo que o tamanho não é importante, derramo alguma luz, pouca, sobre o assunto. Depois de ler, e reler atentamente, a tua prosa, retiro dela a seguinte conclusão: os homens não se masturbam com a mesma frequência que as mulheres não se lamentam.




    (Só uma coisinha: acho que -0 não existe :D )

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    1. ( Existe. Pode-se sempre ser menos que nada)

      Estou tão cansada, que nem consigo rir.

      Mas apeteceu-me. Muito.

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    2. ( Existe. Pode-se sempre ser menos que nada)

      Estou tão cansada, que nem consigo rir.

      Mas apeteceu-me. Muito.

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  7. Olá, Isa! Uma pessoa fica de boca aberta quando lê uma coisa destas. Tens razão em tudo o que dizes! Mas o que me faz mais macaquinhos e até uma certa inveja, lá está, as gajas são invejosas, é a forma sã e escorreita como tudo te saiu. É que isto é coisa de quem vê muito, de quem sabe muito, não estou a engraxar-te, para quê? É de quem sabe muito bem o que quer, penso que sabes, de quem, de quem, até estou gaga, e andam uns tantos e tantas pelo facebook a escrever e a falar de intelectualidades... Outras e outros de poesia... Deixa lá. Se essa gente visses isto, o que é uma pena não verem, ganhavam cá uma dor de corno! É que está tudo no sítio, mulher! O resto nem discuto!

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    1. Obrigada por passares por aqui, e pelo cumprimento, Isabel. É exagerado, mas sabe bem..:)

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