And now for something completely differentPor Gajo Porreiro

 

A ti, acéfalo condutor que habitualmente circulas na faixa do meio da autoestrada** quando a direita está livre, ou que utilizas a faixa da esquerda quando vais a 121 km/h porque achas que vais muito depressa, eu desejo…

… que marres com os cornos no pilar de um viaduto sem que daí resulte em ti sequer um arranhão, mas que o carro vá para a sucata e não tenhas dinheiro para comprar outro. 

… que ao chegares a casa já fora d’horas, triste e assustado, encontres a tua cara-metade a mamar sofregamente o veiúdo a um sem-abrigo moçambicano, com ar de satisfação e baba a escorrer-lhe pelos cantos da boca. 

… que ao saíres dali para ir afogar as mágoas em gin tónico escorregues num cagalhão mole e aterres com o focinho noutro, segundos antes de receberes uma chamada dos Recursos Humanos a comunicar extinção do teu posto de trabalho e que no dia seguinte já não precisas de te apresentar na empresa, altura em que és abordado por três ciganos que, além de te assaltarem, te põem o cocó andar em contra-mão até ficares com o arelho em ferida e te atiram, nu, para um canto escuro e sujo onde um  cão sarnento e pejado de carraças te mija em cima e te tenta montar. 

… que depois disso tudo, desesperado, sem dinheiro, com frio, cheio de dores no cu e a cheirar a cagalhão e mijo, vás a casa dos teus pais pedir ajuda e descubras que se tornaram evangélicos, ao mesmo tempo que revelam que és adoptado e de ascendência Romena, que nunca gostaram de ti e que só te aguentaram aqueles anos todos por causa do abono de família, enquanto te vão enxotando para longe da porta com uma esfregona e ligam à polícia dizendo que os queres assaltar.

Agora vai. Vai e usa a faixa da esquerda outra vez, cabrão. Aproveita e liga os faróis de nevoeiro, filho da puta.


** Aplicável, com as devidas adaptações, a todas as Estradas Marginais, Segundas Circulares e ICs 19 do País e arredores