Não me perguntem
porque é que eu estava sentada no 1º de Maio naquele banco de jardim à frente
da igreja, literalmente a secar ao sol, com a companhia de um mau livro. Mas
saibam que tinha de lá estar e o sinal 3g do telemóvel estava fraco (daí ter de
recorrer ao mau livro que ainda andava na mala). Saibam que face à situação do
momento era a minha melhor opção.
Quando a missa
terminou havia uma espécie de evento em torno da igreja, pelo que muita gente
se manteve por ali. Fiz o melhor que pude para me manter atenta ao mau livro e
esperar que o tempo voasse mais que as abelhas que por ali pairavam.
Mas com o fim da missa, veio o terror maior para qualquer jovem sentado num
banco de jardim: magotes de velhos.
Mudei
ligeiramente a posição para ter uma postura mais defensiva e prendi com maior
firmeza os olhos ao livro como quem está alheado de tudo à volta. Mas senti um
grupo cacarejante a aproximar-se em passo coxo. Não era só um grupo de
velhotas: era o grupo do banco da frente da missa, sei por certo. As poupas altas, os modelitos das lojas de
bairro, as conversas sobre todos os habitantes da cidade sem exceção, a começar
pelo comportamento do Sr.Padre, denunciaram-nas.
E ali estavam os
olhares que dizem “dá licença, jovem” sem voz.
Não me
interpretem mal. Dou sempre o meu lugar no metro sem refilar – quando mo pedem
(para que a cedência não ofenda ninguém que não seja de facto tão velho ou não
esteja de facto grávida). Mas naquela manhã em particular, naquela situação em
particular, estava disposta a lutar pelo meu lugar. Tinham estado sentadas na
missa e eu de facto não tenho culpa que o padre as tenha mandado levantar
muitas vezes.
Elas não
precisavam estar sentadas, pareceu-me, queriam mesmo só usar o estatuto. Eu
estava no território delas. Bancos de jardim.
Queria rosnar mas o aroma a Chanel nº5 toldou-me as capacidades. Queria dizer
que também estou quase nos trinta e já não tenho a frescura de outrora, mas
notei entretanto uma movimentação atrás delas.
Comida! O evento
incluia a oferta de comidas e bebidas ali junto ao adro. De maneira que
provaram o meu ponto de vista: não precisavam estar sentadas (ou não teriam
passado a meia hora seguinte na fila dos croquetes).
Portanto a pergunta, impõe-se: os bancos de jardim estão reservados a +65?
Como sempre excelente :) mas não são reservados não, tenho pouco mais de 40 e adoro sentar-me nos bancos, tenho dois miradouros com bancos, com uma vista espectacular sobre Lisboa :)
ResponderEliminarDesde que não te cruzes com um gangue destes podes estar descansada :D
EliminarMas afinal, cabiam lá todas?.
ResponderEliminarEu pensei que eram só os velhos que incomodavam a salivar às netinhas, afinal vêm as velhas a incomodar, como se um mau livro não fosse já tortura suficiente.
Juventude sofre.
Só cabiam para aí três e meia. E isto era antes de comerem os croquetes, depois já nem essas garanto!
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