sexta-feira, 29 de maio de 2015

Este banco de jardim não é para novos

Por Maria das Palavras



http://en.wikipedia.org/wiki/Bench_(furniture)


Não me perguntem porque é que eu estava sentada no 1º de Maio naquele banco de jardim à frente da igreja, literalmente a secar ao sol, com a companhia de um mau livro. Mas saibam que tinha de lá estar e o sinal 3g do telemóvel estava fraco (daí ter de recorrer ao mau livro que ainda andava na mala). Saibam que face à situação do momento era a minha melhor opção. 


Quando a missa terminou havia uma espécie de evento em torno da igreja, pelo que muita gente se manteve por ali. Fiz o melhor que pude para me manter atenta ao mau livro e esperar que o tempo voasse mais que as abelhas que por ali pairavam.

Mas com o fim da missa, veio o terror maior para qualquer jovem sentado num banco de jardim: magotes de velhos.

Mudei ligeiramente a posição para ter uma postura mais defensiva e prendi com maior firmeza os olhos ao livro como quem está alheado de tudo à volta. Mas senti um grupo cacarejante a aproximar-se em passo coxo. Não era só um grupo de velhotas: era o grupo do banco da frente da missa, sei por certo.  As poupas altas, os modelitos das lojas de bairro, as conversas sobre todos os habitantes da cidade sem exceção, a começar pelo comportamento do Sr.Padre, denunciaram-nas.
E foi então que senti o seu olhar conjunto sobre mim, com mais poder que o sol quente que me estava a fritar a cabeça há mais de meia hora. O magnetismo delas e a força contrária da pouca atração do livro, levaram-me a cometer o erro: levantei a cabeça.


E ali estavam os olhares que dizem “dá licença, jovem” sem voz. 

Não me interpretem mal. Dou sempre o meu lugar no metro sem refilar – quando mo pedem (para que a cedência não ofenda ninguém que não seja de facto tão velho ou não esteja de facto grávida). Mas naquela manhã em particular, naquela situação em particular, estava disposta a lutar pelo meu lugar. Tinham estado sentadas na missa e eu de facto não tenho culpa que o padre as tenha mandado levantar muitas vezes.


Elas não precisavam estar sentadas, pareceu-me, queriam mesmo só usar o estatuto. Eu estava no território delas. Bancos de jardim.

Queria rosnar mas o aroma a Chanel nº5 toldou-me as capacidades. Queria dizer que também estou quase nos trinta e já não tenho a frescura de outrora, mas notei entretanto uma movimentação atrás delas.

Comida! O evento incluia a oferta de comidas e bebidas ali junto ao adro. De maneira que provaram o meu ponto de vista: não precisavam estar sentadas (ou não teriam passado a meia hora seguinte na fila dos croquetes).



Portanto a pergunta, impõe-se: os bancos de jardim estão reservados a +65?

4 comentários:

  1. Como sempre excelente :) mas não são reservados não, tenho pouco mais de 40 e adoro sentar-me nos bancos, tenho dois miradouros com bancos, com uma vista espectacular sobre Lisboa :)

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    1. Desde que não te cruzes com um gangue destes podes estar descansada :D

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  2. Mas afinal, cabiam lá todas?.
    Eu pensei que eram só os velhos que incomodavam a salivar às netinhas, afinal vêm as velhas a incomodar, como se um mau livro não fosse já tortura suficiente.
    Juventude sofre.

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    1. Só cabiam para aí três e meia. E isto era antes de comerem os croquetes, depois já nem essas garanto!

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