terça-feira, 30 de junho de 2015

A Loja dos Trezentos, 1.º acto

Por Onónimo Quiescente

O Caso Grego

Q. Boa tarde caros ouvintes. Temos hoje em antena o conceituado especialista em assuntos internacionais Dr. Ó-Nónimo. Boa tarde caro doutor. 
Ó. Boa tarde meu rapaz. Agradeço a pronúncia correcta do meu nome, que é comummente confundido com U-Nónimo, meu primo em 3.º grau do lado da mãe.

Q. Pedia ao nosso convidado o favor se apresentar, uma vez que se trata de uma estreia em antena.

Ó. Como no seminário, ahahah. Bem, juntei os créditos e tirei duas licenciaturas na Lusófona.

Q. Créditos de bolonha?
Ó. Não meu caro rapaz, créditos que tinha no BES, e em boa hora o fiz. Concluí e apresentei num domingo à tarde a tese *Sexo, forrobodó, e finanças Gregas* e a tese *Uma correlação entre a população de esquilos e o incêndio florestal em Portugal*.
Por esta via sou também consultor da protecção civil para o assunto do malditos esquilos, e do Bruno de Carvalho em relação ao caso Jesus. Aliás liguei-lhe ainda há pouco a tranquilizá-lo, se o Jesus não puder ser inscrito como treinador principal entra como oráculo.



Q. Mas, Dr. Ó-Nónimo, o que pensa o senhor do Caso Grego? 

Ó. Ora, em rigor nada penso do Caso Grego. Só me convidaram para comentar os comentários ao caso grego e dar uma perspectiva histórica moderna. É que seria mais dispendioso aqui ao boteco dar a minha opinião. Esta coisa come-se?

Q. Não, não! Caro Dr., isso é o microfone! 

Ó. Ah, bom, meu rapaz, é que parece um corneto de morango. Espero que isso não seja um aparte homofóbico meu caro.

Q. Por favor Dr., o Caso Grego...

Ó. Ah, sim, aquela trapalhada que tem deixado os media e os mercados em histeria. Bem, queria trazer à colação três magníficas obras históricas e três comentários recentes.

Q. Comecemos então pelas obras.

Ó. Muito bem. O meu rapaz parece ler pensamentos. Não, não é um piropo. Já não tenho idade para essas coisas. Ora bem, começo pela queda do império e termino com dança.

Q. A queda do império romano, a história do declínio e queda, do ilustre Gibbon?

Ó. Quem? Não! A queda do império às garras do impiedoso kibutz de ewoks, do mestre Lucas. Foi um claro aviso histórico. Os ewoks, sem qualquer sistema financeiro, munidos de paus e pedras, derrotaram o golias imperial. Aliás, as pessoas parecem sempre pensar que foi Golias que venceu lá nos desenhos animados.

Q. Nos desenhos animados?

Ó. Sim, aquela adaptação para crianças do Épico de Gilgamesh. Mas por favor não me interrompa o raciocínio. Em segundo lugar recordo *300* dos historiadores contemporâneos Snyder e Miller, clara metáfora futebolística de um *Grécia vs Resto do Mundo*. Vale também pela cena de sexo da bela Headey, sempre a brilhar no Um Jogo de Tronos.

Q. Na Guerra de Tronos...

Ó. Lá está o meu amigo! Olhe que estou a cobrar ao minuto.
Finalmente, optimista, penso que tudo acabará a dançar, nem que seja no fio da navalha. E aí entra Zorba, essa simpática epidemia. A madeira está toda podre nos alicerces económico - financeiros  globais e continuamos a dançar. Já para não falar no problema das Mulheres...

Q. Peço desculpa, não fiquei esclarecido com as analogias. 
Ó. É um problema meu rapaz. Actualmente toda a gente vai ao pormenor. Isto é entretenimento, não é para esclarecer.

Talvez com a ajuda do Professor Marcelo, do Dr. Miguel e do Dr. Daniel lá cheguemos.

Imagino que o Prof. Marcelo, que não tive o privilégio de ouvir esta semana, tenha dito que será uma de duas opções, sim ou não, correcto ou errado, bem ou mal, com umas referências à religião católica pelo meio para agradar a gregos e troianos, a bem da sua candidatura presidencial. 

É sempre uma de duas opções, excepto quando o professor esquece o seu complemento, o talvez. 

Penso que será mais por esta via, nem sim nem não mas talvez, a via do meio. O Syriza, esses malditos radicais de esquerda, uma espécie de Marinho com ideias de Louçã, Deus tenha piedade de nós, está a lutar pela sua sobrevivência política. Querem dinheiro, e o Prof. Varoufakis, sempre vago, meses de vacuidade, pede confiança nas suas reformas enquanto em simultâneo o lunático Tsipras vai ao beija mão do camarada Putin, uma das mais simpáticas criaturas da actualidade, que dirige com punho de ferro um paquiderme falido. Foi ao sítio certo.

Repare-se, não digo que os Gregos não tenham feito sacrifícios. Fizeram e muitos, basta ver as estatísticas. Mas antes de culpar a troika, tal como cá, talvez seja bom recordar a corja política das últimas décadas, e todo o dinheiro injectado e esbanjado em ambos os países por esses malditos perdulários.

Por outro lado, a teoria do Dr. Miguel é fascinante. Ninguém sabe nada de história, coisa que refutei com as 3 obras citadas, e estamos em águas nunca navegadas. Ora é um pouco como estar ocupado com a carta marítima da costa portuguesa quando passamos o bojador. Não faz lá muito sentido, enfim nunca faz lá muito sentido, mas não deixa de ser engraçado, que é o que interessa quando dançamos um tango vigoroso ou temos sexo. Se não der bem ao menos que tenha graça.

É a teoria *Os ignorantes*. 


Mas é verdade, os sistemas económico e financeiro mundiais, e europeus em particular, estão afinados para privilégio dos grandes estados. Mas acontece o mesmo com os indivíduos e as empresas dentro dos estados. Quanto mais recursos melhor. 

Ontogénese e filogénese no mesmo sentido. E um exemplo foi o valor do euro durante anos, e uma injecção de capital na zona euro que tardou 4 anos, e o facto de se emprestar à banca privada a baixo juro para esta emprestar aos estados fracos a valores exorbitantes com base nos ratings de agências dos Estados Unidos que nos merecem a maior confiança. 
E não haver harmonização fiscal. E continuar a pactuar com paraísos fiscais. 
Há muita coisa mal, mas o Syriza nunca quis um acordo concreto, e, pior, tergiversa em plena negociação, parece querer um perdão total de dívida como única solução, quando este já ocorreu em valores astronómicos. Gravíssimo, Portugal, sem esses benefícios, paga mais de juros anuais de dívida que a Grécia. Há um certo limite para a condescendência. As relações entre estados são pragmáticas, não são caridade.

Mas a minha preferida é a do Dr. Daniel, sempre exaltado aquele rapaz, por ser a mais belicosa. É tão complexa que tinha de vir de um comunista não assumido:

1. A Troika está a coagir um golpe de estado na Grécia.
2. A Grécia, por esta ordem, sai do euro, da união e da NATO, é invadida pela Turquia a leste e por migrantes por todos os outros lados.
3. A Rússia contra ataca a Turquia com armas nucleares porque Tsipras prometera-se em casamento a Putin. Prometeu o casamento ou vendeu a alma, sabe-se lá, mas cheira a enxofre.
4. A NATO reúne em conselho e morrem todos de overdose de peiote, felizes mas sem tomar medidas.

A China fica com o Algarve, por leilão, e Portugal encontra assim a única saída para a austeridade.


É a hipótese *Apocalipse*. Imagino que esteja triste por não estar a participar nas negociações.

Países como Portugal e a Grécia terão sempre problemas. Têm PIBs fictícios à base de dívida para alimentar a gamela do estado. Não produzem, nem prestam serviços de valor acrescentado em quantidade suficiente. Mesmo que haja mais dinheiro para as pessoas como garantir que é aplicado essencialmente no mercado interno e não estoirado em automóveis alemães, na indústria farmacêutica, em vestuário e electrodomésticos estrangeiros, em férias nas caraíbas, etc.?

Toda a gente manda bitaites críticos mas ninguém apresenta uma solução.

Q. É então pessimista?

Ó. Nem pensar! Tenho transtorno de personalidade do grupo A do DSM,  mas não vou dizer qual.

Os comentadores estão demasiado ansiosos. A solução será intermédia. Os próprios Gregos não são lunáticos, ao contrário do seu governo. Votaram no Syriza porque, como nós, estavam fartos dos lacraus anteriores e dos anteriores aos anteriores. Espero uma purga dessa gente.

Q. Purga, na fogueira?
Ó. Autos-de-fé? Não, há métodos mais elegantes à disposição, meu caro rapaz. Basta uma justiça que funcione. E espero que alastre para cá. Veja por exemplo o preso 44, cheio de garganta. É claro que nada se vai provar. Agora, se aquela trupe de legisladores já tivesse aprovado a lei do enriquecimento ilícito (coisa que considero da mais elementar moralidade) as coisas seriam bem diferentes. De qualquer modo, a prisão preventiva é uma vergonha, excepto no caso de um anterior primeiro ministro que poderia ter alterado esta barbaridade e não o fez considerando-se intocável. A justiça é sempre para os outros não é? Talvez este simulacro de justiça escreva direito por linhas tortas. Enfim...


Obrigado meu rapaz. Conheço a saída. Depois envio o recibo. Tenho ali no automóvel um CD dos Archive para ouvir. Chama-se Controlling Crowds. Os homens são uns poetas.

Q. Agradeço ao Dr. ...,  não por favor não leve o microfone! Bolas...
E assim me despeço dos caros ouvintes. Até à próxima semana.

7 comentários:

  1. As minhas desculpas pelo atraso, e pelas diversas afirmações que me faltou confirmar por falta de tempo!
    Abraço!

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  2. Caro Onónimo Quiescente,
    Gostei deste seu texto, tanto pelo humor quanto pela acutilância. A confirmação é sobrevalorizada e perfeitamente dispensável. Aguardo pelo próximo capítulo.
    Um abraço,
    Outro Ente.

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    1. Obrigado caro Outro Ente.
      Espera-se agitação nos próximos actos.
      Abraço!

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  3. Também lhe cheirou a enxofre? Ainda bem, já pensava que se tinha aberto uma brecha nos fundilhos do além com labaredas a fazerem-me suar os pés. Afinal não, era só uma reunião de colegas. Enquanto houver países como Portugal, Grécia, Espanha e Irlandas poderão viver na sua harmonia dourada lascada as Alemanhas, a França e outros países cheios de rectidão desse norte da europa. Mas eis que um belo dia alguém descobre que afinal os do norte são tão ou mais facínoras do que os outros do sul.

    Tem muitas páginas a publicar para uma nova obra de luta de classes, com os escravos do costume à proa, romances calientes nos celeiros das herdades, claro que há baile (como podia não haver baile?), e uma guerra da sucessão só porque é gzzziiiruuu - o trono foi todo comido pela ferrugem.

    Bailemos ao som de "Norte e Sul" a próxima grande obra a sair para breve e finalmente.

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    1. Futuro complicado. Ainda mais se acrescentarmos a tecnologia que aí vem, em simultâneo maravilhosa e assustadora.
      Enquanto jovem ainda pensava que o projecto europeu acabaria por englobar tudo, com esse ou outro nome. Veremos se sobrevive à voracidade dos tempos...
      Quanto à luta de classes, confesso ter poucas esperanças.
      Abraço!

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    2. Assusta-me a tecnologia já corrente. As perspectivas de um 1984 passaram da literatura para a realidade já faz algum tempo.
      Esperemos que sobreviva e traga finalmente a consciência de equilíbrio. Ca'fé nessa esperança! :)

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  4. This is Sparta, meu caro!

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