sábado, 20 de junho de 2015

As razões que o coração já conhece

Por Gaffe

Norman Rockwell
Sempre que numa discussão acalorada, eu, portadora da razão, me irrito e desanco o oponente com a força dos argumentos certos gritada alto e bom som, há sempre quem me diga muito de mansinho e com uma benevolência paternalista própria de idiotas: Perdeste a razão quando gritaste.

Nada mais incorrecto.

A razão, se a temos, resiste a tudo quanto é berro e fica, se já lá estiver, do nosso lado mesmo que pelo ar chovam chinelos.
É bom que este facto fique bem assente ou lanço fogo ao primeiro traste que me vier dizer que se me puser aos berros, perco a razão toda, mesmo quando a tenho bem segura.
A razão é como a sardinha numa lota: tanto se apregoa aos gritos, como se mostra fresca e muda na canastra. Em ambos os casos não se transforma em chispe.

13 comentários:

  1. Nenhum argumento certo precisará de ser berrado. Elevar a voz até determinados decibéis ainda dentro de limites, modelar a entoação da palavra num tom mais determinado e toda uma panóplia de linguagem gestual que não vou expor, conservam a força do argumento. Berrar, gritar, faz os outros taparem os ouvidos e se tal acontecer, quem a vai ouvir?

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  2. Pessoalmente, e no a discussões diz respeito, quanto mais o outro lado grita, mais calmo fico e mais pausadamente falo. O efeito é tremendo e resulta melhor que berros e gestos descoordenados. E como eu tenho sempre razão...

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  3. Estou aqui a ponderar sobre tatuar o último parágrafo deste post... Logo ali, debaixo da nuca. ;)

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  4. Eu grito muito.
    Esteja ou não a discutir.

    Vou-me debruçar sobre esta minha postura, a ver.

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  5. Eu também tendo a baixar a voz, quanto mais zangada estiver mais baixo é o meu tom. Os meus ricos filhos já sabem que a coisa não correrá bem, em se ouvindo sussurros.
    Já quando grito...
    (o último parágrafo é maravilhoso)

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  6. Gajo:
    Se a razão for expressa aos gritos, pode deixar de ser ouvida, mas não desaparece.
    :)

    NM,
    É um lugar óptimo para tatuagens e beijos.

    Picante,
    Se gritares não se te escapa a razão por nenhum grito, embora possa deixar de ser ouvida.

    Filipa,
    Os gritos podem ser uma catarse abençoada.

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    Respostas
    1. Para a razão desaparecer tinha de lá estar e, tal como disse ali acima, EU tenho sempre razão.
      No que toca ao berreiro, confesso que a impaciência e o desespero do outro lado me dão algum gozo. Quanto mais calma demonstro, mais irritados ficam. Priceless!

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    2. Está enganado. Quem tem sempre razão sou eu.
      (se estivesse a falar seria num tom baixo, talvez ligeiramente adocicado, meio sorriso e tudo...)

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    3. Vocês só acham que têm sempre razão.
      O resto do mundo só não gosta de contrariar os menos favorecidos.
      Só.

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    4. Enganado, eu? Tão provável como o Jorge Jesus ser eleito Presidente da República.

      Pipinha... enfim.

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  7. Eu não disse que desaparecia mas fica desconexa como um gato de cheshire que ora só aparece o sorriso ou uma cauda sem gato.

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  8. Reunião de condomínio. Aguardo caladinho como um rato. Discutem interminavelmente, por fim até se abraçam. É a ocasião certa para, em voz pausada, com uma ironia paternalista, dizer "as minhas desculpas, isso tudo viola os artigos x e y do CC e será impugnado com toda a naturalidade". Não é necessário berrar. Eles aborrecem-se mais quando tratados como crianças.

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