sexta-feira, 17 de julho de 2015

A Loja dos Trezentos, 2.º acto

Por Onónimo Quiescente


"A Bola está desse lado. Sim, esse aí!"


... estamos agora a cinco minutos do final da partida, senhores telespectadores, em directo exclusivo e em quatro capa aqui na sua Tv Lupanar ... 
(*) 

E Var(u)fakis acaba de sair pela linha lateral com a bola debaixo do braço esquerdo!!! 
Aplausos dos dragões vermelhos gregos e apupos da claque do resto da europa! 
O jogo está parado, senhores telespectadores... 

(La G)arde, quarto árbitro, aproxima-se de Varufakis, lívida, e gesticula agressivamente!!! 
Está a dizer-lhe que o jogo não é para meninas, que volte ao campo e dê o peito às bolas como um homem! 

Varufakis, semblante trocista, gesticula também. Mostra-lhe o dedo, senhores telespectadores, mostra-lhe o dedo, e abandona o campo para o túnel dos balneários!!! 
E leva o esférico consigo! 
No meio campo, o ponta de lança T(z)ipras mantém aquele sorriso parvo na cara. Ninguém sabe se é alergia à maquilhagem ou se é teoria dos jogos...

A multidão está em êxtase, entre ovação e ruidosas vaias!!!
Mas... mas... senhores telespectadores!... minha nossa senhora!!! 

Varufakis regressa com um machado na mão direita!!! 
A claque S(i)riza faz tremer o estádio! Estendem uma gigantesca bandeira vermelha com a foice e o martelo e gritam ChéChé! 
La Garde recua em pânico e foge a correr para perto do fiscal de linha Jun(Q)er. Dijsselb(oom!), interior direito, recua do ataque para perto de Mer(Q)el, na baliza com um gigantesco par de luvas nas mãos... 

Não é possível, não é possível!!! 
Varufakis acaba de cortar o seu braço esquerdo com o machado da mão direita!!! 

É a loucura total, senhores telespectadores!!!... Até a claque do norte da europa aplaude!!! Um finlandês salta do topo da bancada para fora do estádio!!! 
Minha nossa senhora!!!... Tenho aqui ao lado um colega jornalista em colapso cardio-respiratório e vários a babarem-se sobre os microfones!!! 

O massagista (S)acalotos corre para Varufakis...

Bla(T)er, ébrio, de alegria ou substâncias, afirma pelo microfone que o próximo mundial será na antárctida porque os pinguins também merecem, e será patrocinado pela Olá (tm) e pela Haagen Dazs (tm)...

Tzipras continua a sorrir do meio campo e conferencia com o árbitro Drag(u)i... 
Quer uma paragem e pelo menos duas bolas em campo, uma para cada equipa!!! 
Dragui olha para MerQel, capitã e guardiã da baliza do resto da europa, e diz que isso é no mini-golfe.
Manda jogar... 

Tzipras reclama "pelo menos bola ao ar"! Sacalotos está a coser apressadamente o braço a Varufakis... 
Varufakis continua a gesticular com o braço direito... e ameaça jogar sem equipamento, carequinha como chegou ao mundo!!!

(Ó)llande diz a Tzipras que "só mesmo um especialista em jogos teria de facto conseguido enfiar-nos a todos neste cu de j(u)das". Tzipras responde que Varufakis andou seis meses a espalhar explosivos e pavios pelos estádios todos e que tem um fósforo russo no bolso. Óllande replica que está demasiado vento para acender fósforos...
O meu colega L(ô)çã está ali a fazer o pino na cadeira enquanto grita histericamente ao microfone da rádio difusão tijolo encarnado...

Pa(ç)os, na defesa central perto da baliza de MerQel, tem uma ideia brilhante e grita "vai (X)auble, mostra-lhes como é, rodinhas!". 
Vendo toda a gente alheada, Dijsselboom! coloca um segundo esférico em Xauble, que dá um traque e parece uma locomotiva supersónica. 
Segue com a bola ao colo pela direita, cabelo ao vento, olhar ameaçador!!! 
Passa por (pp)Utin, distraído por uma ucraniana loira que afinal é um drag queen

Tzipras grita com Dragui "aquele terrorista não pode usar rodinhas nem levar a bola ao colo!". 
Dragui diz que pode se ele não estiver a ver, e coloca óculos de eclipse solar. Satisfeito consigo próprio, Dijsselboom! coloca mais gel no cabelo. O público feminino delira e tira selfies com Boom! e Varufakis em plano de fundo... 

O guardião (K)osta esconde-se atrás da baliza grega! 
Tem estado nisto todo o jogo, ora na baliza ora atrás dela... 

A claque pzp-bróco grita "humilhação! fora de jogo!!!" Literalmente, senhores telespectadores, "fora!!!", do jogo. "A honra e a coragem alimentam o revolucionário!" 
Na claque do pê-ez já começou a batatada. O ex-vice-líder de claque, "O Vara", é removido das bancadas. Há quem não goste de ver Kosta a esconder-se atrás da baliza.
A claque nórdica também grita "fora!", mas "do estádio!", senhores telespectadores, "do estádio!". 

(B)ama-ó, chefe dos assistentes de recinto desportivo e mestre jedi, aproveita a confusão e lança um garnisé para o relvado perto do sith lord darth ppUtin.  
Segreda a La Garde, usando os mind tricks do mestre Mou'Rinho, que tem de se cozinhar um empate, que, no final, mata-se um boi e faz-se uma festa com assados em braseiro. 
Pensa, "Ah, radicais islâmicos, médio oriente, russos, até chineses e europeus... está tudo a correr bem!". 
Só teme uma invasão extraterrestre e a ascensão das máquinas.

E termina o tempo de descontos do prolongamento, senhores telespectadores!!! 
Vamos para morte súbita por grandes penalidades!!!

A claque grega dos dragões vermelhos está em rebuliço, lançando souvlakia uns aos outros... 
Com os pratos, senhores telespectadores!!! Com os pratos!!! 
Minha nossa senhora!!!

Há pratos que saltam a vedação e atingem os adeptos do resto da europa. Muitos gritam que aquela porcaria é indigesta. 

Tzipras grita que a claque é que manda, que vai a um segundo prolongamento antes dos penaltis!!!  
La Garde acena afirmativamente, meio aturdida pelas palavras de Bama-ó. Dragui troca os óculos por um escafandro para não ouvir mais ninguém. Xauble continua a rolar sem travões... Varufakis eclipsou-se no ar e deixou o machado no relvado aos pés de Sacalotos. Em seu lugar resta apenas fumo negro de um motociclo de alta potência. Sacalotos recita o mantra "tem calma, sê cordato, vai tudo correr pelo melhor"...

Mar'Celo, aqui ao lado, comenta que talvez sim, talvez não, talvez talvez, mas o que interessa é serem todos católicos. 
Dani'El arranca as barbas, à falta de cabelo para mitigar a fúria. Grita que há-de haver solução que não esta, mas não sabe qual é, nem conhece quem saiba. 
Mig'El insiste que são todos uns ignorantes, que ninguém sabe nada de história da bola, que a bola foi inventada pelos gregos ainda antes de serem Gregos, e antes da roda, e que a culpa é dos árbitros por não meterem mais bolas em jogo e de MerQel por usar luvas não regulamentares. Insiste que os gregos merecem uma mesada perpétua por terem inventado o esférico.

Fora do estádio, Varufakis, Gasparzinho, um Taxista e o Sr. (Z)ilva comem farturas, serenamente. O Sr. Zilva, b(u)ldogue francês pela trela, a quem chama carinhosamente "o meu pequeno monstro", recorda que "bem tinha avisado na minha página do facebook...", triste por ninguém importante ligar aos fascinantes roteiros que lê aos netinhos. Gasparzinho convida Varufakis para o FMI congratulando-o pelo bom trabalho. O Taxista, doutor em sociologia e ciência política, vai dar uma entrevista à comunicação social portuguesa, para tédio de Al'Bertinho no estúdio, que está mortinho por passar a entrevistas de velhinhas na rua. Varufakis lança indiscriminadamente tomates podres para dentro do estádio.   

Em grande alarido, entre sirenes troantes e luzes flamejantes, entra o corpo de intervenção da pzp com canhões de água com sabor a morango e bastões de cartão, seguido de enfermeiros com ar tranquilo trazendo aqueles estranhos casacos brancos que apertam pelas costas. 
O meu colega (G)erónimo esclarece que é o casaco da moda no estado progressista da coreia do norte e que está ansioso por experimentar... 

Apanham logo o fiscal de linha (X)ulz que estava atrás da bandeirola a ver se MerQel não dava por si. MerQel levanta voo com Xauble naquela cadeira a jacto. São os únicos a escapar.

E vêm atrás de mim! Vêm atrás de mim!!!
Minha nossa senhora, caros telespectadores!!!
Minha nossa senhora!!!


"Diários de um mundo perdido", penúltima entrada "A bola? Mas qual bola?!, Q., onze de junho do ano do Senhor de dois mil e quinze. 
(*) Personagens ficcionais, por conselho do onónimo, que me alertou não ter tempo nem dinheiro, ele que é um asceta, para processos judiciais. 

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