sábado, 4 de julho de 2015

Blogo-Batota



Proibido não é! 
Na blogosfera como na vida não há proibições, mas tens de pagar um preço pornográfico que não permita, jamais, que o encantamento se quebre.
Este preço é o que te dá, entre milhões de blogs comezinhos, de má literatura, de má e inverosímil publicidade, a bóia, ou se quiseres, a superação, de todos os teus percalços, de todos os teus 'maus dias, 'maus posts' e 'respostas defensivas a perguntas simples' que põe a descoberto a tua batota.
É a qualidade e a verosimilhança que imprimes aquilo que vendes, que dizes, que apregoas, que publicitas, que finalmente te colocará acima de qualquer suspeita, de qualquer testa franzida, de qualquer desconfiança, livrando-te da culpa de que foste mesmo tu que cortaste a cabeça ao pobre cliente malvado, e que o colocaste dentro do rio, sem complacências,  com uma pedra presa na canela.
Onde é que isso se vende? Em que armazém posso eu encomendar a qualidade avassaladora que me permite seguir caminhando por cima das águas, enquanto os outros se afundam num mar de mentiras e batotas baratas?
Depende muito dos cúmplices que entendes contratar para manteres o álibi de te colocar dali para fora, de fora do crime que na verdade andas a cometer todos os dias, sobre a capa da qualidade que sabes bem que não tens.
Mas proibido não é!
A verosimilhança que tentas imprimir às coisas que diariamente te propões a partilhar, essa vontade cega que tens, e deves ter - afinal é um negócio - de persuadir quem te lê, e que somos nós todos, os do outro lado, os bons e os maus, tens de contar com isso, os leitores exigentes e os banais, os informados e os ignorantes, os curiosos e sábios e as debulhadoras que tudo engolem; tens de a saber merecer, porque de uma forma geral nós, os maus, desconfiamos muito das coincidências da batota encapotada, mesmo que a aceitemos como garantida em certos espaços, alguns até bastante competentes.
Acontece que toda a gente, pelo menos os minimamente evoluídos, sabe, não te iludas, quando vai ao teu espetáculo de marionetas, abstrair-se dos fios. 
Sabemos todos muito bem o que são marionetas e que estão presas por fios.
Proibido não é! 
Um espetáculo de marionetas é sem dúvida de grande perícia.
Não queiras é fazer das marionetas gente de verdade, não queiras é enganar o teu público dizendo que aquilo que vemos, os fios e aquela parafernália toda que tão bem montaste, são reais, porque se souberes imprimir uma qualidade, uma beleza, um cunho, ao teu Espetáculo de Marionetas, terás pessoas que embora saibam que aquilo não é real, saibam também com o que podem contar.
E o encantamento não se quebra.
Mas a blogo-batota está-te no sangue. Está no sangue de todos nós, na bloga como na vida. 
Mas se calhar já estava mais do que na hora de assumires que muito daquilo que apregoas está mesmo, mesmo, preso por fios.
E rematando metaforicamente, a boa literatura é disso um grande exemplo. Toda a gente sabe que a história não é real, que é totalmente ficcionada, que não há maneira de fazer corresponder aquilo à realidade, mas o livro é um best seller, vendido em todos os países, uma coisa muito boa.
Blogo-batota sim, mas com qualidade.
E onde é que isso se vende?

5 comentários:

  1. Às vezes questiono-me sobre quem é que faz mais batota: quem a faz, mais ou menos, à descarada, ou quem aponta o dedo a quem a faz?
    Não sei se lhe chamaria batota, mas talvez antes bluff.
    Como bem dizes, "na bloga como na vida", cada um vende a melhor imagem de si, com autocolantes agarrados à pele, ou limpinho deles, mas sempre a melhor. Mesmo quando está a dizer que é feio que nem os trovões.
    :)

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    1. Eu acho que o problema mesmo é venderem a pior imagem de si. É que não há pior imagem que enganar os clientes. Cá a mim só me enganam uma vez.

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  2. Mas este post é dirigido a alguém em especial? Quem?

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  3. Gosto tanto de ti, sabes "ler" tão bem!

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