segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Tio e as riquezas de suas Mães

Por Isa




Foto de John Palatinus



Este é um cantinho de porquês blogosfericos. Aqui destacamos blogs que, com toda a legitimidade de o serem e mesmo morando em nossos corações, nos impõem, a cada post que escrevem, o holy grail de todas as interrogações: "Porquê?".
São blogs que nos marcam pelo enigma - quem não gosta de umas boas palavras-cruzadas, certo? - pelo deslumbre de toda uma construção de letras que, mesmo que em alguns casos casadas em palavras bonitas, denotativas de, pelo menos, uma escolaridade interessante, apresentável, talvez até um curso superior, nos confronta com a personalidade de quem  as tecla.

À laia de honras da casa, o pontapé de saída vai para Pipoco Mais Salgado (de nada tio, o gosto é meu) e tenho que confessar: nunca lhe consegui ler um post por inteiro. Ou porque me distraio com as vírgulas, ou porque me lembro de uma conta a quitar, ou é o cândido encantamento da sua identidade secreta que me é por demais hilário, ou porque às tantas me parece que está ali realmente a dizer nada. O que deveras me atrista, pois que me considero uma mulher romântica, queria mesmo muito conseguir ver as coisas pela panorâmica visível à grei de Evas comentistas, depositantes de suspiros - sim, quando desisto de mim nos textos, vou ler os comentários a ver se me retomo. Sou gaja, loira e de Cascais, gostava de pertencer, adoro "tambéns" - já que é  ali que lhes leio todo um conluio sobre o absolutamente nada. Aquilo é tipo uma coisa maçónica, até aí percebi eu. Agora o sentido, a lógica, a razão, o intuito, a coerência e o tempo gasto, é que me transcendem. Pensei, "Vejamos, há aqui uma aura de arrogância, caminhando, mão na mão, com o pretensiosismo inerente. Arrolo a leveza de conteúdos, constato a minha falta de interesse, então, ó que caralho, o que é que estas almas lhe vêem que eu não?! ...Porquê que eu não??" Introspeccionei-me. Agarrei o touro pelos cornos, desci ao mais fundo de minhas fraquezas, olhei-as de frente. A dôr foi exponencial, que o aceitar-mo-nos, por vezes, é por demais custoso. Enchi-me de coragem - aquilo foi que nem parir um filho - e conclui residir o cerne de tão intrincada questão no factor QI:
- Elas têm mais madeixas que eu. 
Facto.
[É digerir, e continuar  a ver um azul no céu. Ondas no mar, o periclitante brilho das estrelas, que, conjuntamente com o nascer do sol e a florzinha silvestre que teima desabrochar em chão desidratado, nos indiciam vida, para além de whatever]

O tio escreve, quiçá, sei lá. Manda com umas farpas ali, outras aqui, o tio lá tem as suas opiniões sobre coisas, inclusive até sobre coisas usualmente atribuídas à genética feminina, suponho que por uma questão de multi-funcionalismos e/ou derivados de omnipotências. É misterioso e parco nas respostas - uma qualquer pessoa mais mesquinha até poderia dizer que é porque ele não sabe mesmo dizer mai nada, que isto é uma cambada, já se sabe - mas tenho pra mim que é pra deixar no ar aquela aura de inatingível. Ele é um desafio ao intelecto. Amiúde, comunica por analogias - não que diga nada de por aí além, mas fica giro, é bem, que uma pessoa bem nunca vai directa ao assunto, cá agora disparates - e tem heterónimos, o que, em conjunto com o seu q.b. de altivez e petulância, lhe garantem uma assistência semelhante à da Corin Tellado em princípio de carreira, ou à do Zorro em fim da dita.

Às vezes sonho.  Em noites boas, sonho que estou de serviço ao bar no Tamariz. Na praia, lá estão elas, de pele castanha corroída pelo solário, dentes alvos à Hollywood e aparece o tio. Vem de nadador-salvador, rosto invisível, tanga de lycra, franja loira puxada para o lado, manual de "Dicas para se poder sair de Cascais, sem que Cascais saia nunca de si", na mão, o marcador em forma de bóia com o dizer Clube Náutico, assinala a página 323. Aproxima-se de suas madeixas-falantes e  diz-lhes "..'tão? ...coiso..?"
Elas riem muito e respondem "...'tão ...coiso..". Cansam-se de pensar e, sempre a sorrirem (muito), de copo de gin em mãos, começam um ritual estranho, que consiste em deambularem seus corpos ouro antigo, uns por entre os outros, alheados do resto do mundo, fascinados com tão só suas presenças, pacientemente esperando que um grão de areia lhes diga, em tom anasalado, que sentido darem a suas vidas. Normalmente acordo com a mesma aflição com que leio o Pipoco Mais Salgado. Agarro-me, contudo, ferozmente, a estes sinais, pois que  os interpreto como premonições. Creio piamente na chegada do sonho-Messias, aquele que não me fará despertar em suores, o que me deixará, finalmente, compreender toda uma essência que - para já, felizmente - me ultrapassa. Afinal de contas, quem é que anda aqui a contar encarnações, não é tio?

(Ahhh, Virgílio,que já dizias  tu: felix qui potuit rerum cognoscere causas).



E é tudo, desta vossa

Isa

6 comentários:

  1. É o Sean Penn. olha bem o nariz.

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  2. Isto está tão deliciosamente escrito...

    (é bem capaz de me fazer cá vir de novo, só para ver como se aguenta no post a seguir a este)

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    Respostas
    1. ( havia de lhe ter custado uma beca não me pôr essa pressão em cima, havia..)

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    2. Estamos cá pelo convívio...

      (a seguir a um post requintado vem sempre uma coisa mais fraquinha, que nos faz pensar que o tal post bem escrito foi uma imponderabilidade estatística)

      (mas cá estou para avaliar)

      (nada pessoal, acontece a todos)

      (quase todos...)

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    3. Diz que sim, diz que sim..


      (favor não esquecer o factor imparcialidade. todos sabemos que o que é nosso nos é muito mais valioso, detenhamo-nos em umbigos, nomeadamente)

      ( e que isenção não é para todos)

      (nem quase todos, na verdade..)


      (quando se refere a imponderabilidades estatísticas, refere-se a qual dos seus posts, mais exactamente..?)


      ( eheheheheh ... tava na brinca ....)

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