um sítio assim |
~ Ah, as Psiquiatras. Bem te avisei. ~
De facto. Mas será difícil sair daqui e regressar apenas no
outono…
«Não. Iria estragar o momento.»
“Música?”
«Hmm? É perfeitamente adequado ao clima e ao humor.»
O Ó aplaude, estridente nos meus pobres ouvidos, raios o
partam. “Fazemos outra coisa?”
«Pfff. Só pelo entretenimento meio absorto. Ou para ensinar
às crianças o significado da existência de regras. Em que planície, nobres ou plebeus, enfrentamos o nosso
adversário com igual exército e seguindo as mesmas regras?»
«Ah, Q., a maior parte das ocasiões nem sequer sabemos quem
é o adversário até ao último momento. E a tua aversão ao excesso de formalismo devia
recordar-te que seguir regras é a maneira mais rápida de ser devorado.»
“Pelo pensamento estratégico?”
Volta o olhar melancólico para o horizonte. «Aprendi xadrez com a minha Mãe.»
Não falamos durante um momento.
«Magnífico tirocínio para a mente jovem. E para tardes de poesia
na arcádia.»
“Almoçamos há pouco. Corpo e mente ainda lânguidos. Nada
melhor que Gin e Xadrez.”
Esboço de um sorriso divertido, parcialmente escondido pelos
óculos. Observo-me em ténue reflexo. É estranho.
«Sinceramente Q., preferia estar na água.»
“E., por favor não me deixes vencer novamente. Há uma certa
dignidade nonchalant em dar o nosso
melhor e ainda assim ser derrotado por um intelecto superior.”
~
Duas espreguiçadeiras na pequena plataforma sobre a
paliçada.
Brisa indolente à sombra de palmeiras. O roçagar de água em areia.
Uma mesa de madeira. Duas
bebidas geladas, talvez white lady. Não presto atenção.
Ela contempla o horizonte distante.
Eu contemplo outro horizonte.
Ela sente-o e não reage, provocação implícita na atitude.
Organizo as peças sobre o tabuleiro de viagem,
reservado, pela fotografia mais recente.
Desconfio secretamente que Ela recorda
sempre todas as posições.
Talvez evite o paternalismo por pudor.
Começa assim…
(ae #1.1, Gin & Xadrez)
Fujo de sítios assim há anos, desde que eles existem para mim.
ResponderEliminarSeria uma ida sem regresso.
Rum, cacau, café, tabaco, areia branca e mar azul... nem sequer penduro posters ou vejo fotografias que tal me lembrem.
Este post devia vir na categoria de "coisas intocáveis".
:DDDDD
EliminarÉ verdade. A terrível sensação de urgência em voltar e não regressar.
Ah, a suave indolência, a anulação da percepção do tempo...
Abraço!
(fui perverso com os colegas, o post lê-se em sentido inverso, parágrafo a parágrafo)
Andei aqui num grande dilema de digo ou não digo, mas agora que já tem uns posts acima destes já posso dizer.
ResponderEliminarQuando cheguei ao "Começa assim..." comecei a ler o post de baixo para cima e depois de cima para baixo e novamente de baixo para cima. E fiquei a pensar qual era a versão que gostava mais. Não o fiz por ser de um intelecto fabuloso mas porque sempre gostei de histórias, e elas começam com "Era uma vez...", "Conta-se...", "Diz-se...", "Ora aqui vai..." e "Começa assim..." e fiz do fim o início e por aí afora.
Mas essas também são memórias intocáveis como praias de areia branca de azuis eternos, que nasceram da imortal juventude de nos sermos.
Apesar de memórias antigas, o que quer que escreva está sempre afectivamente resguardado.
EliminarPor favor não tenha qualquer problema em comentar, criticar, interpretar, ironizar. A caixa de comentários está aberta para isso mesmo.
Aquilo que é escrito é sempre reconstruído por cada leitor de acordo com a sua própria mundividência.
Agradeço, e fico bastante satisfeito pela interpretação.
Abraço!
Obrigado :)
ResponderEliminarGostei de "mundividência" também.